segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Conflitos iminentes em Anapu mostram que nada mudou

Uma grave denúncia feita pela CPT Anapu - Pará, está sendo divulgada, dando conta de que as atividades ilegais, de corte de madeira e grilagem de terras continuam no município, dentro da área dos assentamentos. Fazendeiros conhecidos da polícia, pelas atividades criminosas de longa data, promovem o terror na região, enquanto os assentados reagem denunciando e protestando.
As promessas de repressão ao crime organizado, feitas à época do assassinato da missionária Dorothy Stang duraram apenas alguns meses e, como se pode ver a seguir, não tiraram de ação os grileiros, que continuam a ameaçar as vidas dos assentados e a destruir a floresta.








24 de agosto de 2010



D E N Ú N C I A

12 de fevereiro de 2005 marcou profundamente a história dos agricultores e agricultoras no norte/nordeste do Brasil. Nesta triste data a Irmã Dorothy foi brutalmente assassinada a queima roupa com seis (6) tiros. Ela foi assassinada porque defendia o direito das famílias na agricultura familiar, como também o direito da floresta e seus habitantes a sobreviver. Hoje as famílias defendidas pela Irmã Dorothy assumem com garra a defesa da floresta e suas criaturas. Os Projetos de Desenvolvimento Sustentável em Anapu na linguagem do INCRA são quatro, mas na linguagem do povo são duas: Esperança e Virola Jatobá. As famílias em todos os dois projetos lutam hoje para poder sobreviver, defender a floresta e viver em paz.
Virola Jatobá está construindo uma guarita onde eles mesmos vão ficar de guarda e defender a sua floresta contra madeireiros invasores atrás de madeira ilegal. Há um porém na história: os madeireiros vão armados, os guardas não. No PDS Esperança a guerra está declarada. Desde dezembro a área está invadida por madeireiros que saem dia e noite cheios de madeira nobre: ipê, jatobá, angelim, castanheira, madeireiros com nome e endereço como Divino Gambira, Alagoano, Delio Fernandes, César o filho de Silvino, Lázaro, Manin, João e Gerson.
Em setembro, 2009, os trabalhadores do município se organizaram para empatar a entrada e saída destes madeireiros. Conseguiram numa noite só parar 7 caminhões que eles mesmos entregaram para o IBAMA. Triste situação nossa é que o governo local e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais se juntaram com o governo do Estado do Pará para cobrar a saída do chefe de IBAMA e parar as investigações da retirada ilegal de madeira em Anapu, seja por roubo direto ou manejos florestais ilegais. A governadora escreveu uma carta para o presidente de IBAMA. O chefe responsável e consciente for transferido para o IBAMA, Marabá. Anapu ficou sem cobertura do IBAMA. Resultado: as famílias conscientes do PDS Esperança assumem a luta em defesa de sua floresta. Mas a força destas famílias é frágil diante do dinheiro, das armas e o poder político dos ladrões da floresta. No mês de julho, 2010, um trator usado pelos madeireiros apareceu queimado. A retirada de madeira parou por um dia. Mas logo começou de novo. Nesta semana, na madrugada de 20 de agosto, foi queimada uma camionete de madeireiro. Um caminhão grande também foi atingido. Tudo isso na Vicinal 1 do PDS Esperança, na área do Lote 57. Quem queimou esta camionete? Circulam ameaças de morte. As casas são rodeadas de noite criando um clima de terror na Vicinal. No meio de tudo isso, chega o dono da camionete com trator e enterra o veículo queimado; ação curiosa que levanta suspeitas em relação a situação da camionete como também quem está por trás da queima destes carros. No dia seguinte, entraram no PDS Esperança pelo menos 5 caminhões madeireiros, escoltados por carros menores e motocicletas, todos altamente armados. Foi feito Boletim de Ocorrência na delegacia da polícia civil em defesa dos trabalhadores ameaçados. Foi denunciada de novo a situação para o IBAMA e o Ministério Público Federal. E agora? Quais os recursos que restam para este povo fiel e determinado? Se recorrerem às armas são "bandidos", se deitarem na frente dos caminhões madeireiros, vão morrer. E a história vai contar o que? Que a floresta acabou porque o povo não a defendeu, porque o povo a derrubou? É assim que a história se escreve no Brasil...mas não é assim que ela acontece.


Comissão Pastoral da Terra
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